No final da noite, enquanto recolhia os papéis da mesa, Blerim terminou de amarrar o casaco e limpou as mãos com um pano.
— Amanhã vou sair cedo — disse ele. — Preciso buscar uns móveis numa vila a uma hora e meia daqui.
Mila ergueu os olhos, surpresa.
— Vai sozinho?
— Costumo ir. Mas… — fez uma pausa, e depois acrescentou com mais leveza — pensei que talvez quisesse vir comigo.
Ela hesitou. Parte dela queria dizer não. Havia e-mails do trabalho se acumulando, pendências sobre o depósito de Roma. Mas a outra parte, mais forte e mais sincera, já estava imaginando o cheiro de estrada, a brisa da janela aberta, o tipo de silêncio que só existe fora de casa.
— Que horas?
— Oito. É melhor sair com o frescor da manhã.
Ela assentiu, e por um instante, os dois sorriram como cúmplices de um plano que ninguém mais precisava entender.
Na manhã seguinte, a estrada parecia um filme lento. A luz do sol filtrada pelas árvores, os campos que se abriam em verde e dourado, as casas isoladas com roupas