A noite se instalou sem pressa, lenta como tudo ali. Mila apagou a vela que insistia em projetar sombras na parede e ficou no escuro por alguns instantes.
O envelope com o nome da mãe estava sobre a mesa, fechado, como se guardasse algo vivo que pudesse morder. Ela passou os dedos pelo papel. Parecia tão comum — e ainda assim, continha tudo o que ela passara a vida inteira querendo saber.
Ou talvez só parte. Talvez só mais perguntas.
Respirou fundo. Lembrava-se de ouvir a avó dizer que algumas verdades preferem dormir. Mas Mila estava cansada de dormir em volta de silêncios.
Abriu o envelope.
Dentro, havia uma única folha dobrada. O papel era firme, de cor creme, com as margens amareladas pelo tempo. Quando começou a ler, a caligrafia de Emine pareceu sussurrar direto no peito dela.
"Minha Mila,"
Fechou os olhos. A última vez que ouvira a mãe dizer seu nome devia ter quatro anos. Depois disso, só vinham ecos.
"Se um dia estas palavras chegarem a você, quero que saiba que não parti por