Mila demorou para criar coragem de abrir o recorte. O papel tremia entre seus dedos, fino como pele de cebola. Tinha medo de que se desfizesse, de que o passado sumisse junto com a poeira que caía da dobra.
Blerim não disse nada. Apenas se acomodou na cadeira oposta e ficou esperando, como se entendesse que havia coisas que ninguém podia apressar.
Quando finalmente desdobrou o jornal, o nome da mãe saltou diante dela. Emine Qyra, impresso em letras pequenas, quase tímidas.
A matéria era datada de 1988. Tinha a fotografia que Blerim mencionara — a mãe, sentada num banco, segurando um livro aberto no colo. Ao lado dela, um homem que Mila não reconheceu.
O título dizia apenas:
“Dois jovens e a ousadia de sonhar.”
Ela leu devagar, palavra por palavra. O artigo contava sobre um projeto cultural que pretendia abrir uma pequena biblioteca comunitária na cidade. Falava da resistência de parte dos vizinhos, que acreditavam que a iniciativa era “subversiva” — um termo que, na época, bastava par