Na manhã seguinte, Mila acordou com uma clareza estranha.
O medo ainda estava lá, claro.
Mas, pela primeira vez, parecia que o medo não mandava mais.
Parecia que ela tinha aprendido a levantar da cama mesmo assim.
Tomou banho, vestiu uma blusa clara e prendeu o cabelo num rabo de cavalo apressado.
Enquanto passava o café, olhou a mesa da cozinha — o livro azul com o recorte guardado entre as páginas.
Por um segundo, quis deixar tudo como estava.
Guardar as perguntas no mesmo lugar onde tinham morado por tanto tempo.
Mas depois lembrou das palavras de Blerim na véspera:
"Você não está sozinha."
E soube que não podia mais fingir que não queria saber.
Pouco depois das nove, saiu de casa.
O ar estava frio, mas o céu limpo.
O caminho até Berat parecia mais curto do que lembrava — talvez porque, agora, cada quilômetro fosse uma pequena vitória contra a covardia.
Quando entrou na biblioteca municipal, a senhora que organizava o balcão ergueu os olhos e sorriu, surpresa.
— Mila Dervishi — dis