O dia seguinte amanheceu mais suave.
O vento tinha perdido parte do frio, e o cheiro do lago parecia mais doce do que antes.
Mila acordou devagar, com a cabeça pesada de tantas perguntas, mas com a sensação estranha de que não precisava responder todas ao mesmo tempo.
Tomou um café rápido, calçou as sandálias e abriu as janelas da sala.
O ar entrou como um convite.
Respira.
Fica.
Espera.
Passou boa parte da manhã ajeitando pequenas coisas — dobrando cobertas, organizando os papéis que Blerim anotara com nomes de vizinhos antigos, revisando os e-mails do trabalho remoto que começaria na semana seguinte.
De vez em quando, se pegava olhando o livro azul sobre a mesa.
Ainda não tinha coragem de reler o recorte.
Mas já não sentia a urgência de escondê-lo.
Era como se, finalmente, aceitasse que algumas histórias não deixam de existir só porque a gente finge que esqueceu.
Por volta do meio-dia, resolveu descer até o sótão.
Não era o lugar preferido dela — sempre parecia frio, como se guardas