A sala do Conselho exalava poder e tradição, com suas paredes carregadas de história e olhares desconfiados.
Amara entrou acompanhada de Dante, sentindo na pele cada sussurro e cada fuzilamento silencioso dos homens sentados à mesa. Don Salvatore Vitale, o patriarca do Conselho, fez um gesto lento para que todos se acomodassem. — Senhorita Bellucci — começou ele, a voz profunda como um trovão — seu retorno não passou despercebido. E sabemos do peso que carrega o nome Bellucci. Amara ergueu o queixo, olhos firmes. — Voltei para assumir meu lugar. Não vou fugir do que é meu. Don Salvatore a observou com uma mistura de respeito e dúvida. — Na máfia, tradição é lei. E tradição diz que uma mulher não comanda um clã. Um silêncio pesado caiu sobre a sala. O conselheiro Tommaso, homem de rosto duro, franziu o cenho. — Precisamos de alguém que lidere com punho firme. Todos os olhares se voltaram para Dante. — Ele é seu marido — disse Don Salvatore — e, por isso, será o representante do clã Bellucci perante este Conselho. Amara sentiu o ar faltar por um instante. — Isso significa que você quer passar o poder para ele? — perguntou, a voz carregada de incredulidade e fúria contida. Dante permaneceu calmo, mas seu olhar escureceu. — Eu protegerei os interesses da família — respondeu com firmeza — e garantirei que ninguém aqui se esqueça do poder que os Bellucci ainda têm. Amara caminhou até o centro da sala, encarando cada homem. — E eu? — questionou, a voz firme, a determinação brilhando nos olhos — Estou reduzida a um nome, uma aliança, um contrato? Tommaso riu, seco. — Você é uma peça, Bellucci. Uma peça importante, mas ainda uma peça. Don Salvatore ergueu a mão, silenciando a sala. — O poder deve ser exercido com sabedoria e força. Dante Moretti será nosso braço agora. Amara cruzou os braços, mas o fogo em seu peito não se apagava. — Então que fique claro — ela disse, olhando diretamente para Dante —, que essa união é um pacto. Não uma rendição. Dante sorriu, um sorriso duro, cheio de promessas. — E eu nunca fui de render-me. O Conselho assentiu em silêncio. A guerra dentro e fora daquela sala estava apenas começando. Após a reunião do Conselho, Amara e Dante se afastam para um corredor silencioso da mansão, as sombras amplificando o peso das palavras que precisam ser ditas. Amara parou no corredor escuro, o rosto iluminado apenas pela luz tênue das velas. Ela virou-se lentamente para Dante, que a observava com expressão fechada. — Me diz a verdade, Dante… esse casamento, esse juramento ridículo, era só uma peça no seu jogo para tomar o meu lugar? Para ser o líder que o Conselho aceita? — sua voz estava carregada de mágoa e desafio. Ele franziu a testa, aproximando-se um passo, o olhar firme. — Você acha que eu queria tudo isso desde o começo? Não subestime o quanto esse jogo é complicado. O que aconteceu hoje não foi só estratégia, foi necessidade. Você sabe disso. Amara cruzou os braços, mordendo o lábio inferior, tentando controlar a mistura de raiva e decepção. — Necessidade? Conveniência, talvez. Eles nunca me aceitaram, e você sabia disso desde o início. Será que tudo isso foi só para te colocar no comando, enquanto me mantém como uma marionete? Dante desviou o olhar por um momento, respirou fundo, depois voltou a encará-la, com um toque de sinceridade. — Não é assim. Eu não quero seu lugar. Quero o que é melhor para a família. E você… você é o coração dela, mesmo que eles não vejam. Ela riu, amargo e sem humor. — O coração? Então por que me fizeram engolir esse juramento? Por que transformaram a minha força em um contrato que me prende? Dante deu um passo mais perto, a voz baixa, quase um sussurro. — Porque o mundo em que vivemos não deixa espaço para idealismos. O que temos é o que podemos usar para sobreviver. Amara se afastou, encarando-o com olhos que brilhavam de fogo. — Então me diga… até onde vai essa aliança? Até onde posso confiar em você? Ou, no final, vou ser só uma peça do seu tabuleiro? Ele pousou a mão no braço dela, firme, mas cuidadoso. — Confiança não é dada, Amara. É conquistada. E eu pretendo conquistar a sua… se você deixar. Ela soltou um suspiro, misto de cansaço e desafio. — Não vai ser fácil. Dante sorriu, meio torto, um brilho de desafio nos olhos. — Gosto de desafios. O silêncio voltou a dominar o corredor, mas entre eles, uma tensão palpável crescia, cheia de promessas não ditas e batalhas por vir. — Você gosta mesmo de desafios, né? — Amara rebateu, com um sorriso torto e a voz carregada de ironia. — Mas não se esqueça, Moretti, eu não sou fácil. Nem sua marionete. — E eu nunca quis uma marionete — Dante respondeu, a paciência começando a se esgotar. Antes que ela pudesse reagir, ele avançou um passo rápido e a pressionou contra a parede fria do corredor, o corpo colado ao dela, a respiração quente quase tocando seu rosto. — Você acha que isso aqui é só um jogo de poder? — ele murmurou, a voz baixa, tensa, quase um rosnado. — Eu poderia fazer qualquer coisa que quisesse com você agora… e ninguém, nem um dos filhos da puta desse Conselho, iriam se intrometer. Amara engoliu em seco, o olhar desafiador enfrentando o dele, a respiração acelerada. — Porque eu sou sua? — perguntou, provocando, cada palavra uma faísca. — Porque você é minha — Dante respondeu com firmeza, o olhar dominador queimando no dela —, por juramento, por sangue… e por tudo que ainda está por vir. Ela apertou os punhos, o corpo tenso, mas não recuou. — Isso não vai me calar, Dante. Nem vai me prender. Ele sorriu sombrio, os dedos deslizando pela pele dela, um toque ao mesmo tempo ameaçador e carregado de promessa. — Eu não quero te calar. Quero te controlar. E você vai aprender que isso aqui é mais do que palavras — disse, a voz rouca. O corredor pareceu diminuir, o mundo reduzido àquela tensão, àquele jogo perigoso de poder, desejo e desafios.