O carro arrancou em disparada, o ronco do motor ecoando como se carregasse para longe o estilhaço dos tiros. Do lado de dentro, porém, o silêncio era ensurdecedor. Apenas o som da respiração de ambos preenchia o espaço, irregular, pesada — o tipo de respiração que vem depois de escapar da morte por um fio.
Pedro não desviava os olhos dela. O blazer estava amarrotado, a blusa colada ao corpo pelo suor, e um arranhão fino riscava o braço exposto. Aquilo foi o suficiente para lhe gelar o estômago.
— Você precisa ir ao hospital. — disse, a voz mais firme do que pretendia. — Não adianta fingir que está inteira depois do que aconteceu.
Rose virou o rosto devagar, encarando-o com a mesma dureza que usava contra inimigos armados. — Não estou fingindo. Estou inteira.
— Inteira? — Pedro inclinou-se, os olhos faiscando. — Você levou socos, chutes, foi jogada contra o chão. Isso não é nada?
Ela respirou fundo, controlada, como quem já tinha dado aquela resposta mil vezes. — Nada que eu já não ten