O relógio no criado-mudo marcava pouco mais de sete da noite quando Rose finalmente se deu por vencida diante do espelho.
Ela ajustou a barra da blusa pela terceira vez, como se o tecido fosse culpado pelo desconforto que sentia. A cada olhar, parecia ver não apenas o reflexo de uma mulher em roupas elegantes, mas também as cicatrizes invisíveis que carregava.
O quarto estava em silêncio absoluto, mas dentro dela havia um tumulto ensurdecedor. Vozes do passado, lembranças da juventude, frases que ecoavam como tiros: “Prometo te proteger, Rose.” Era a voz de Will, ainda viva em sua memória.
Fechou os olhos, respirando fundo. — Isso acabou. — disse a si mesma, mas as palavras soaram frágeis, como vidro prestes a rachar.
Na cama, a pistola repousava sobre o coldre, lembrando-a de quem era e do que fazia. Rose pegou a arma, prendeu-a no cós da calça e escondeu sob o blazer. O gesto devolveu-lhe parte da firmeza. Ainda que a noite tivesse sabor de encontro, ela se obrigava a encarar como m