Capítulo. 35 – Linhas Cruzadas (parte 1)
Se eu pudesse pausar o tempo, teria feito às 9h02. Exatamente quando as primeiras viaturas estacionaram em frente ao prédio e os microfones começaram a brotar das mãos como erva daninha. Antes disso, eu ainda tinha a ilusão de que planilhas e transparência seriam suficientes. Depois, virou uma questão de sobrevivência pública.
— Eles chegaram — Vanessa anunciou, espiando pelas persianas. O rosto dela estava sério, mas as mãos tremiam um pouco. — Polícia, fiscal, dois carros de imprensa. E um drone. Meu Deus!
— Um drone? — perguntei, porque meu cérebro escolheu se apegar ao detalhe inútil, talvez para não pirar com o panorama geral da situação.
— Um drone — ela confirmou, ainda em choque. — Quer café?
Tentei sorrir. Falhei. O elevador apitou no corredor. Enzo entrou na sala de reuniões parecendo desnorteado: mangas arregaçadas, blazer no braço, mas com aquele olhar que dizia “eu já lidei com coisas piores e estou inteiro”. Ele parou na cabeceira da mesa, apoiou o celular, olhou para mim