Depois da conversa no carro com Enzo, eu passei a noite inteira indo e voltando entre duas decisões que não se gostam: contar e proteger. No fim, fiquei com a terceira opção, mais honesta: sobreviver ao dia.
Era sábado. Acordei Santino com panquecas (meu truque barato para conseguir cooperação), deixei-o escolher a camiseta do dinossauro e, às dez, eu, ele e Vanessa estávamos no shopping. A missão: comprar material de artes e trocar um tênis.
— Você piscou — disse Vanessa, afivelando a mochila pequena dele —, e de repente tem um quase-homem pedindo talher de gente grande.
— Metade meu, metade culpa do tempo — respondi, fingindo leveza. Por dentro, meu corpo ainda vibrava com a frase de Enzo: Eu não vou tirar ele de você. Jamais faria isso. Queria acreditar. Parte de mim acreditava.
Paramos na praça de alimentação. Santino queria batata. Eu pedi salada. Vanessa pediu café e “um bolo para a ciência”.
Foi quando vi. Primeiro, o reflexo numa coluna de aço polido. Depois, a silhueta que po