— Eu não escolhi sair daquele quarto daquele jeito.
— Mas saiu. — Eu respirei mais fundo do que queria. — E quem ficou fui eu.
O que aconteceu depois foi uma espécie de estalo. A contenção dele cedeu um centímetro. Só um. O suficiente para a raiva ganhar substância.
— Você mentiu — disse, enfim. Não gritou. Não precisava. — Olhou na minha cara, por meses, e mentiu. Me deixou rondar seu escritório, sua vida, sem dizer que havia uma criança com o meu rosto morar… — ele engoliu — …com você. E quando eu comecei a sentir o que estava debaixo da superfície, você se escondeu atrás de regras, relatórios, cronogramas.
— Me escondi atrás do que eu tinha. — Devolvi, baixa. — Você tem equipe, carros, soluções. Eu tenho uma criança que depende de mim. A minha prioridade sempre foi não quebrar o que eu levei anos para manter de pé.
— Então você prefere quebrar a mim. — O riso irônico veio rápido. — Ótimo. Eu aguento. E ele? Ele aguenta descobrir que tem um pai e que esse pai estava a du