Passei a noite inteira acordado. As cartas, a certidão, o baú… tudo estava agora guardado em uma caixa de sapato velha, escondida debaixo da minha cama. Cada vez que fechava os olhos, via o nome "Gabriel Antunes de Vasconcelos" brilhando diante de mim como uma marca em fogo.
Aquela certidão mudava tudo. Mas, ao mesmo tempo, parecia abrir mais perguntas do que respostas. Por que um homem tão poderoso teria um filho escondido em um orfanato? Por que minha mãe jamais me contou? E o mais importante: ele sabe que eu existo?
Na manhã seguinte, tentei agir normalmente. Fui ajudar na cozinha, arrumei os brinquedos do pátio, sentei com os pequenos para as atividades do dia. Mas estava distraído. Helena percebeu.
— Vai acabar cortando o dedo se continuar olhando para o nada assim — ela disse com um sorriso leve, estendendo um pano de prato.
Eu larguei a faca e limpei as mãos. Ela se sentou ao meu lado, sobre uma das mesas vazias da cozinha, como quem esperava por uma conversa.
— Você está difer