A luz da manhã entrava pela janela do asilo como se dançasse lentamente no ar, tocando os lençóis brancos da cama de Clara. Ela dormia tranquila, o rosto suavizado pelo repouso, os cabelos grisalhos espalhados como seda sobre o travesseiro. Eu a observava em silêncio, sentado na poltrona ao lado, com uma caneca de chá ainda quente entre as mãos.
Era difícil descrever o que eu sentia. Ela parecia tão frágil, tão distante do mundo real, e ao mesmo tempo era a única conexão verdadeira que eu tinha com o passado. O que me mantinha ali, visitando-a todos os dias, não era apenas a esperança de ouvi-la me chamar de "filho" — era algo mais profundo. Era o medo de que, se eu não estivesse ali, ninguém mais se lembraria de quem ela fora um dia.
— Ela teve uma boa noite — disse Helena, aproximando-se suavemente, como sempre fazia, com aqu