A manhã chegou como quem não queria incomodar.
A neve tinha parado durante a madrugada, mas o frio ainda era agudo e limpo, cortando o ar como uma lâmina invisível. Madeleine abriu os olhos devagar, sem pressa, sentindo o corpo inteiro envolto nas mantas grossas e macias da cama. Do lado de fora da janela, a claridade refletida na neve criava um brilho suave — um tipo de silêncio que parecia vir de dentro da paisagem.
Era domingo.
E, naquela vila onde o tempo passava devagar, isso significava um ritmo ainda mais pausado. Nenhum alarme tocava. Nenhuma urgência chamava. Emil e Anders provavelmente ainda dormiam no chalé ao lado. Clara comentara que passaria o dia com parentes em uma casa mais afastada. E o canteiro de obras, como era domingo, descansaria também.
Ela levantou-se, calçou as meias grossas e foi até a cozinha. Colocou água para ferver e escolheu um chá diferente — hibisco com gengibre. Mais ácido, mais vivo. Talvez o gosto combinasse com a inquietação suave que vinha sentin