Segunda-feira chegou como um livro que recomeça em nova página. A neve havia cessado durante a noite, mas ainda cobria o terreno como um manto espesso e branco, refletindo uma luz que parecia vir de dentro da própria terra. O céu estava limpo, azul pálido, e o ar gelado mordia a pele, lembrando que o inverno ali era presença — não paisagem.
Madeleine vestiu o casaco mais grosso, calçou as botas térmicas e prendeu o cabelo em um coque despretensioso. Antes de sair, parou em frente à pequena mesa da sala, onde havia deixado o caderno aberto. Rabiscou com a caneta fina uma frase que surgira entre o levantar e o respirar:
“Existem manhãs que carregam promessas em silêncio.”
Depois saiu.
O canteiro de obras estava especialmente vivo. O som metálico de ferramentas, vozes abafadas por cachecóis e o ranger das primeiras vigas sendo içadas criavam uma sinfonia áspera — mas que, naquele dia, parecia quase música. A estrutura começava a surgir, saindo do chão congelado como uma promessa visível.