Capítulo 5

(Isabella)

4 dias depois...

O despertador nem precisou tocar. Meus olhos se abriram antes do amanhecer, impulsionados por uma energia que borbulhava em meu peito: hoje minha irmã mais nova, Clara, chegaria ao país. A saudade era uma presença física, uma contagem regressiva que eu fazia desde que nos despedimos no aniversário de casamento dos nossos pais. A simples ideia de abraçá-la novamente era o suficiente para me tirar da cama.

Virei-me, o movimento automático de quem procura o calor de outro corpo, mas o lençol ao meu lado estava frio e intocado. O travesseiro de Pedro, perfeitamente arrumado, parecia zombar de mim. Não havia um amassado, um vinco, nenhum sinal de que ele tivesse sequer deitado ali durante a noite. Uma pontada de inquietação atravessou meu bom humor matinal. Onde ele teria ido?

Peguei o celular, os dedos deslizando pela tela fria. Tentei afastar a dúvida, optando pela leveza.

“Bom dia, querido! Onde está? Quando volta para casa?”

Enviei a mensagem e esperei, mas nenhuma resposta veio. O silêncio digital começou a pesar. Uma pergunta incômoda começou a se formar na minha mente: será que ele esqueceu? Esqueceu que combinamos de buscar Clara juntos no aeroporto? A possibilidade era tão frustrante que decidi empurrá-la para o fundo da mente. Vou esperar mais um tempo, disse a mim mesma, depois eu ligo. Não vou começar o dia com uma briga.

Decidi canalizar minha energia inquieta em algo produtivo. Fui para o banheiro, deixando a água quente do chuveiro lavar um pouco da minha tensão. Escolhi minha roupa com cuidado, querendo estar bonita para o reencontro. Enquanto me arrumava, o som agudo do celular tocando ecoou pelo quarto.

Um alívio imediato me percorreu. Com certeza ele não esqueceu... Caminhei apressada até a cama, um sorriso já se formando em meus lábios. Mas, ao pegar o aparelho, o nome que brilhava na tela não era o de Pedro. Era Patrícia, minha melhor amiga. O sorriso vacilou, e a pontada de inquietação retornou, mais forte desta vez. Atendi, tentando manter a voz firme.

— Oi, amiga, bom dia!

— Bom dia, amiga! Já está pronta? Quer que eu passe na sua casa para te buscar?

— Não precisa. Combinei de ir de carro com o Pedro. Nos encontramos no aeroporto, ok?

— Ok. Até daqui a pouco, beijos.

— Até! Beijos.

Continuei me arrumando no automático, os movimentos rápidos e mecânicos. Precisava ver meu filho. Fui até o quarto dele, mas o encontrei vazio, a cama perfeitamente arrumada. Provavelmente Jessica já o tinha levado para o café da manhã.

Respirei fundo e segui para o andar de baixo. Foi então que, do topo da escada, a cena se desenrolou diante de mim. O som de risadas infantis me fez parar. Meu olhar desceu e encontrou Pedro, sentado no tapete da sala, completamente imerso em uma brincadeira com Benjamin. Jessica estava ao lado, sorrindo, participando do momento.

A voz grave de Pedro se misturava com a gargalhada de Benjamin, criando uma melodia que eu não ouvia há muito tempo. Uma parte de mim sentiu o coração aquecer com a imagem daquele pai dedicado. Mas outra parte, a que se sentia ignorada, sentiu uma ferroada de ressentimento. Ele não dormiu em casa, não respondeu minha mensagem, mas estava ali, agindo como se nada estivesse errado.

Forcei meus pés a se moverem e continuei a descer. No instante em que pisei no último degrau, Benjamin se virou.

— Mamãe!

O grito foi pura alegria. Ele correu em minha direção com os bracinhos abertos. Agachei-me e o apartei em meus braços, o impacto de seu abraço sendo a única coisa real e sólida naquele momento.

— Bom dia, meu amor! Você dormiu bem?

— Sim, mamãe. — Ele respondeu e depois me perguntou com um lindo sorriso — Você quer brincar comigo um pouquinho?

— Claro que quero, meu amor, mas espera eu tomar café primeiro.

Ainda com o calor do abraço dele, levantei o olhar e tentei manter a voz leve.

— Bom dia, querido! Bom dia, Jessica!

— Bom dia, senhora. — Jessica respondeu

— Bom dia — a voz de Pedro foi neutra.

Ele se levantou e se acomodou no sofá, o celular já em sua mão. Sem desviar os olhos da tela, ele disse:

— Vai tomar seu café para irmos.

A frase soou como uma ordem.

— Você já comeu? — perguntei, uma última tentativa.

— Sim, comi mais cedo com o Benja e a Jessica.

A resposta confirmou o que eu temia: o momento matinal em família tinha acontecido sem mim. Caminhei em direção à sala de jantar, a fome já desaparecida. A ideia de comer sozinha me trouxe uma tristeza aguda. Foi quando Susi, a filha da governanta, apareceu.

— Bom dia, tia Isa. Quer que eu me sente com você para tomar café?

A gentileza dela foi um bálsamo.

— Claro! Pode se juntar a mim.

Comemos juntas, ou melhor, eu comi enquanto ela me fazia companhia, ela mal tocou na comida, provavelmente já devia ter tomado café antes. Quando terminei, retornei à sala. A cena que encontrei fez meu estômago afundar. Pedro continuava no sofá, absorto no celular. Ao lado dele, perto demais, Jessica falava com ele em voz baixa. E no chão, Benjamin agora brincava sozinho, em silêncio.

— Jessica, pode ir arrumar uma bolsa para eu levar o Benja para sair, por favor.

— Claro, senhora. Por acaso, posso saber onde a senhora vai levar ele?

A pergunta, a intimidade casual deles... A irritação que eu vinha reprimindo transbordou.

— Não. Você não pode!

Minha voz saiu firme e cortante. O silêncio que se seguiu foi pesado. Jessica se encolheu.

— Desculpa, senhora! Só queria saber o que colocar na bolsa.

Ela praticamente fugiu, subindo as escadas, como se fosse uma criança assustada que tinha sido acabado de ser repreendida. Senti o olhar crítico de Pedro sobre mim.

— Precisava falar assim com a menina? — ele questionou.

— Menina? Ela já tem vinte anos, Pedro. Devia saber se portar. Ela é a babá, não eu.

Ele desviou o olhar, contrariado.

— Certo... Aproveitando que estamos falando dela, ela me pediu para estagiar na empresa. Pode aceitar ela como sua estagiária? Ela faz arquitetura.

— Já tenho duas estagiárias, não preciso de mais uma. Pode ver com um dos outros arquitetos. — A resignação pesou em minha voz.

— Tudo bem. — Ele se levantou, já se movendo em direção à saída — Como você tem um compromisso agora pela manhã, já vou indo para a empresa. Nos vemos mais tarde.

E foi isso. Ele saiu. Ele esqueceu. Esqueceu completamente do nosso combinado. A frustração se transformou em ação. Saí apressada atrás dele.

— PEDRO! Espere.

Ele já estava no carro. O vidro deslizou para baixo, revelando seu rosto impaciente.

— O que foi?

— Lembra que combinamos de ir buscar minha irmã no aeroporto juntos?...

Ele abriu a boca para responder, mas seu telefone tocou.

— Desculpa, mas tenho que atender!

Fiquei ali, esperando, enquanto ele falava ao telefone. Foram três minutos que pareceram uma eternidade. Permaneci de pé ao lado do carro, observando-o gesticular, a testa franzida em concentração. Ele estava em seu mundo, e eu era apenas um detalhe inconveniente na paisagem. Assim que desligou, o olhar voltou para mim, mas já estava distante, focado no problema que acabara de surgir.

— Apareceu um problema no projeto do país Z, preciso ir para a empresa agora. Até mais tarde.

— Certo. — Foi tudo o que consegui dizer. A palavra saiu vazia, desprovida de qualquer sentimento.

Logo após, o carro se afastou, ganhando velocidade. Fiquei parada exatamente no mesmo lugar, observando o veículo se distanciar até se tornar um ponto e desaparecer. O pensamento que me consumia era avassalador: ele nem se importou. Não se desculpou, não fez a menor questão de responder à minha pergunta. Era como se nossa conversa nunca tivesse acontecido.

Voltei para dentro, movida por uma determinação fria. Peguei minhas coisas, a bolsa de Benjamin, e dirigi para longe daquela casa, daquela indiferença, em direção ao aeroporto.

Chegando lá, avistei Paty de longe. O sorriso acolhedor da minha amiga, com seus cabelos cacheados e olhos expressivos, foi um pingo de alívio.

— Madrinha! — Benja correu em direção a ela. — Ai, madrinha... Você está me apertando.

— Desculpa! É que você é um neném tão fofo.

— Eu não sou neném. Eu já cresci.

Começamos a rir e eu a cumprimentei.

— O voo está atrasado. Talvez demore uma hora.

— Ok. — Respondi

— Amiga, cadê o cunhado?

— Ele teve um assunto urgente na empresa e não pôde vir. — Eu estava começando a ficar boa nessas mentiras.

— Entendi. Bom, como vamos ter que esperar, é melhor procurarmos um lugar para nos sentarmos.

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