A casa parece diferente depois que Selene sai. O ar está mais denso, como se as paredes tivessem absorvido o veneno das palavras e o transformassem em algo vivo. A vela sobre a escrivaninha ainda tremula, e o perfume dela continua flutuando no ambiente, doce e invasivo, como se quisesse ocupar o espaço que eu respiro.
Adrien permanece parado, as mãos apoiadas na mesa, o olhar preso à carta. A chama da vela desenha sombras no rosto dele, ressaltando o maxilar tenso, a curva das sobrancelhas e o brilho contido no olhar que ele tenta esconder.
É o mesmo homem que um dia jurou amor eterno, e o mesmo que acreditou em mentiras suficientes para me destruir.
Ele levanta os olhos quando percebe que ainda estou ali.
— Você devia dormir.
— E você devia parar de fingir que tem controle sobre o que acabou de acontecer.
Ele solta o ar com força, passa a mão pelos cabelos, como quem tenta afastar um pensamento que insiste em voltar.
— Não vou discutir agora.
— Não vai, ou não consegue?
Adrien me enc