As palavras ainda me queimam quando entro no salão dos retratos, que sempre foi o coração da casa. Hoje, ele parece respirar de novo. Cada quadro tem olhos, cada sombra parece observar.Ando devagar entre as molduras, tentando não pensar no barulho das prateleiras que se moveram sozinhas na biblioteca nem na voz feminina que juraria ter ouvido sussurrar meu nome.As mãos estão frias. O coração, quente demais.Quando passo diante do espelho oval, o reflexo vibra, como se tivesse vida própria.A superfície se distorce, e o vidro, líquido, começa a pulsar.Dou um passo para trás, mas o ar muda, pesado, espesso, e o mundo parece virar de dentro pra fora.Não há mais vento. Nem chão. Nem tempo.Há apenas a memória, e ela me puxa como se tivesse mãos.10 anos antes…Chove.O som da chuva contra o vitral da capela é a única coisa que ainda existe.Eu estou parada diante do altar, vestida de branco.O vestido é leve demais para o frio que faz, e o tecido gruda na pele como segunda ferida.Meu
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