A manhã começa com um céu anormalmente claro, um azul que parece ter sido pintado à mão, sem nuvens para esconder o sol que já desponta com força. O sítio desperta em sincronia: galos cantam, motores dos tratores roncam à distância. Mas, naquele dia, algo vibra diferente no ar, como se a natureza pressentisse que o destino está prestes a mudar o curso.
Marta desperta devagar, sentindo os pequenos chutes sob a pele esticada da barriga. Ainda deitada, acaricia o ventre com dedos delicados e firmes. Os bebês estão ativos, e isso, por si só, já é uma benção. Mas ela não consegue ignorar a sensação de peso nos pés e uma dor de cabeça insistente que a acompanha há dois dias.
Do lado de fora, o som do portão abrindo anuncia a chegada de Estela, sempre com energia de sobra e um sorriso que ilumina a estrada de terra. Marta se levanta com esforço e vai ao encontro da amiga, observando com ternura o exagerado urso de pelúcia que ela carrega nos braços.
— Isso é para eles — diz Estela, erguendo