A noite cai devagar sobre o campo, como um véu espesso que cobre tudo com um silêncio reverente. A natureza respira em sussurros, o canto tímido dos grilos, o farfalhar das folhas ao vento, o estalar ocasional de um galho seco. Na casa principal, as luzes estão apagadas, mas a alma de Marta está acesa, fervendo em lembranças que não conseguem mais ser contidas.
Ela se deita em sua antiga cama, num quarto que conhece desde criança. Os móveis estão no mesmo lugar, as paredes ainda guardam o cheiro de madeira e infância, mas ela já não é a mesma. O corpo está exausto, mas o que realmente pesa é a alma. Fecha os olhos e, por um instante, deseja que o tempo volte, para antes de tudo, antes da dor, antes da perda, da briga com Jonathan.
A maçaneta gira com suavidade. O som é tão sutil que mal se percebe. Mas Marta sabe. Ela sente. O coração dela reconhece antes mesmo que os olhos se abram. É Miguel.
— Maninha... — ele murmura ao entrar, a voz embargada pela emoção.
Os olhos de Marta se abre