O sol já está alto quando os primeiros raios invadem o quarto de Marta. O canto dos passarinhos do lado de fora é abafado pelo silêncio reconfortante do cômodo, onde os dois irmãos ainda dormem, enroscados como nos tempos de infância, quando o mundo parecia mais simples e a dor, mais distante.
— Miguel! Marta! — chama a voz de Dona Maria do corredor, batendo levemente na porta.
— Já passou da hora do almoço, vocês vão deixar tudo esfriar!
Os dois despertam juntos, olhos inchados, mas a alma um pouco mais leve. Miguel esfrega o rosto com as mãos e se senta na cama, pensativo. Marta apenas observa o irmão por alguns segundos, o coração apertado pelo tanto que ele ouviu na noite anterior.
— A gente vai ficar bem — ela diz com doçura, tocando o ombro dele.
— Obrigada por me escutar.
— Você não precisa me agradecer, Martinha. Era o mínimo. E eu falhei com você. Eu devia ter visto, devia ter te protegido…
— Ei… — ela o interrompe, séria.
— Não diz isso. A culpa não é sua. A culpa não é d