As ruas deslizam devagar pelos faróis do carro de Rui. Ele dirige como se não estivesse dirigindo, como se apenas existisse ali, automático, máquina ferida atrás do volante. O som abafado dos pneus na pista molhada acompanha os flashes em sua mente, o rosto de Islanne contorcido de prazer, as unhas cravadas nos ombros de Ravi, o gemido que nunca foi para ele:
— Mais forte… não para… meu amor.
Essa frase se repete como uma praga. E o nome. O nome que ela gemeu. Não o dele. Nunca foi.
— Ravi…
Rui aperta o volante até os nós dos dedos embranquecerem. O farol fecha, ele nem vê. O carro segue lento, a cidade parece zombar dele, cheia de luzes, cheia de vida, enquanto ele morre devagar por dentro.
Quando estaciona na vaga do prédio, já se sente meio morto. Desce. Os passos arrastados, a cabeça baixa. No elevador, encara o próprio reflexo e mal se reconhece. O terno amassado, a gravata frouxa, os olhos vermelhos como quem perdeu mais que uma mulher. Perdeu a dignidade. O orgulho. O pouco de