O silêncio do quarto é espesso, quase palpável, quebrado apenas pelo som lento e ritmado de um monitor cardíaco. O cheiro é de antisséptico, misturado a algo mais denso, metálico, como sangue antigo.
Deitada em uma maca, uma cobra desperta…
Cassandra mexe o olho com dificuldade, como se estivesse emergindo de um pesadelo profundo. Mas, ao abrir os olhos, ou melhor, o único que lhe resta, percebe que talvez já esteja morta.
À sua direita, uma figura masculina sentada numa poltrona observa-a com a calma de quem tem todo o tempo do mundo. É um homem alto, impecavelmente vestido, de um porte que beira o intimidador. Os cabelos negros contrastam com os olhos azuis, frios e penetrantes, que parecem atravessá-la até alcançar os seus ossos. Ele não sorri. Não precisa. O poder que exala é tão sólido que quase comprime o ar.
Por um instante, Cassandra acredita estar diante de um médico, ou de alguma divindade cruel, o senhor absoluto do inferno ou do destino. O coração dela acelera. Ela tenta