Quando o relógio marca o fim do expediente e as luzes do Grupo Schneider começam a se apagar, há um tipo de magia silenciosa no ar. A cidade ferve lá fora, mas dentro da empresa, tudo parece se aquietar em torno de um único detalhe: Marta e Jonathan saem juntos, lado a lado, sorrindo como se o mundo lá fora não importasse. E talvez não importe mesmo. Porque quando os olhos dele encontram os dela no elevador, é como se o tempo se dobrasse para abrigar só os dois.No carro, o clima é leve. As mãos se buscam no silêncio confortável da rotina que começa a se formar. Marta ri de algo bobo que Jonathan diz, e ele se permite observá-la por um segundo a mais, como se quisesse memorizar cada expressão.— Você percebe que a gente parece aqueles casais de filme? — ele pergunta, com um sorriso meio torto. — Casais de filme brigam, se desencontram, fazem drama e depois se beijam na chuva — ela responde, com o olhar divertido. — A gente só tá tentando chegar vivo em casa no trânsito de São Paulo.
UM ANO DEPOISO amor deles não é apenas sentido, ele é visto, ouvido e quase tocado. Marta e Jonathan são como uma chama alta e constante, daquelas que aquecem sem consumir, que brilham sem cegar. Por onde passam, arrancam olhares e suspiros, não por ostentação, mas pela aura de plenitude que carregam. O que construíram entre si é mais do que paixão, é uma força silenciosa que se derrama pela casa, ecoa nos corredores do Grupo Schneider e paira sobre os resultados surpreendentes da empresa. Há uma harmonia pulsante no ar, como se o universo os tivesse alinhado para um tempo de colheita, como se eles estivessem apenas começando.O sol mal atravessa as cortinas brancas da cozinha moderna quando Marta aparece descalça, usando uma camisola de seda azul e um sorriso ainda mais suave. Jonathan já está à mesa, de camisa branca, mangas dobradas até os cotovelos e um olhar que para nela como se fosse a primeira vez, mas isso acontece todos os dias.— Dormiu bem? — ele pergunta, estendendo-lhe
O som dos saltos de Marta ecoa com firmeza pelo corredor envidraçado do último andar. Ela segura uma prancheta contra o peito, com uma expressão confiante, os cabelos presos num coque elegante, os óculos de leitura caindo suavemente sobre o nariz. Nada mais na vida dela lembra a menina tímida de um ano atrás.Agora, ela é aluna de Administração na melhor universidade de São Paulo, braço direito do presidente do Grupo Schneider e, principalmente, uma mulher apaixonada e amada por Jonathan.Na sala de reuniões panorâmica, o clima é leve, mas carregado de números impressionantes. Gráficos projetados mostram crescimento, estabilidade, liderança de mercado. E no centro de tudo isso estão eles.— Um lucro líquido inesperado, maior que o do último ano. E olha que esse mercado anda instável — diz Islanne, com um sorriso satisfeito e o tablet nas mãos.— Estável pra quem não sabe onde pisa — rebate Jonathan, com aquele ar seguro que se tornou marca registrada dele. — Nós soubemos exatamente o
O mundo lá fora pode girar no caos do imprevisível. Mas aqui, entre quatro paredes, tudo que existe é ela. Marta. Espalhada entre os lençóis, nua, ofegante, entregue. Um corpo que pulsa, um coração que geme, uma alma que se desmancha inteira sob o olhar daquele homem.Jonathan está sobre ela, mas também dentro, ao redor, por trás de cada centímetro de sua pele. Seus olhos ardem com uma intensidade que beira a loucura. É um desejo que vai além do físico, é possessão, é necessidade, é um tipo de amor que corrói e consome.Ele não diz nada por um longo instante. Apenas a observa. Como se estivesse diante de um milagre raro e perigoso. Como se soubesse que tudo ali é precioso… e também volátil.E então sua voz vem, grave, rouca, carregada de uma luxúria crua.— Abre essas pernas para mim.Não é um pedido. É um comando. Um decreto entoado com reverência e fome. Ela obedece, sem hesitar. E em um segundo, a boca dele está nela, quente, exigente, alucinada. Ele a devora com a fome de um fami
A noite cai como um manto pesado sobre São Paulo. O céu nublado engole os últimos traços dourados do pôr do sol enquanto a cidade pulsa, viva, frenética. No grupo Schneider, Marta retoca o batom diante do espelho, enquanto Jonathan observa de longe, afrouxando a gravata e girando levemente um copo de whisky meio vazio na mão. Ele já tomou algumas doses com Ravi mais cedo no grupo, enquanto discutiam metas e estratégias. Mas ali, agora, o olhar dele está mais sombrio. Mais intenso.Eduardo dirige o carro, calado, até Jonathan dispensá-lo de forma seca ao chegar em casa.— Pode ir, Eduardo.Eduardo hesita, mas obedece. Marta percebe a tensão, mas não comenta.Minutos depois, eles seguem para o restaurante, ambiente luxuoso e reservado para executivos de alto escalão. Ao chegarem, Jonathan está mais sério que o normal, o hálito carregado de whisky, sussurra o início de um problema. Marta o segura pelo braço com carinho, tentando suavizar o clima.O empresário os espera já à mesa. Um home
Jonathan afunda mais um copo de whisky na garganta enquanto a mansão se fecha no silêncio ensurdecedor da ausência de Marta. Os olhos dele, vermelhos de bebida e raiva contida, vagam perdidos pela sala. Tudo ali tem cheiro dela, traços dela. E ele, como um furacão desgovernado, destruiu o que mais amava.Pega o celular, com os dedos trêmulos, e liga para o seu piloto pessoal.— Prepare o jato. Agora. — a voz arrastada não deixa espaço para argumentações.— Destino, senhor?— Campos do Jordão.Sem esperar resposta, ele desliga. Ele precisa sumir. Precisa fugir dele mesmo.Enquanto isso, Marta, ainda trêmula, se fecha no antigo quarto. O quarto que usava quando ainda não dividia a cama e a vida com Jonathan. O peito arde, o pescoço marcado lateja, e o silêncio da casa pesa como mil toneladas. Ela passou a noite acordada, olhos abertos, coração despedaçado. Deitada na beira da cama, com a mala aberta no chão, decide que é hora de ir. Hora de fechar o ciclo, ainda que ele a rasgue por den
Campos do Jordão…A noite cai espessa sobre as montanhas, como se o mundo inteiro decidisse vestir luto.Dentro do chalé, a lareira ainda crepita, mas seu calor é inútil, um fingimento de conforto num lugar onde tudo já morreu. Jonathan está ali. A sombra do homem que costumava ser.Do lado de fora, a neblina densa envolve as montanhas como um abraço sufocante. O clima perfeito para quem quer desaparecer. Para quem quer esquecer que acabou de destruir tudo.Ele passou o dia trancado ali. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nada. Só ele, o silêncio e os fantasmas que agora fazem morada dentro de si.Na cabeça, a imagem dela. Marta. O jeito como ela puxava a coberta quando sentia frio. O sorriso torto ao se levantar ainda sonolenta. A forma como dizia "bom dia" como se o mundo todo coubesse em duas palavras ditas com amor.Sentado numa poltrona larga de couro, as pernas abertas, os cotovelos apoiados nos joelhos, ele segura um copo vazio como se fosse um escudo contra o inferno que queim
Jonathan desce do jato com os olhos fundos, cavados pelo cansaço e pela dor. O rosto pálido como cera reflete um homem que não dorme, não pensa com clareza, não sente mais fome. Apenas sofre. O vento cortante de São Paulo açoita seu rosto com a mesma violência que seus próprios pensamentos o flagelam, mas ele não reage. Não sente. O verdadeiro frio vem de dentro, gélido, denso, permanente. E congela tudo.O motorista abre a porta da SUV com um aceno mudo. Jonathan não ergue os olhos.— Mansão. Agora. — diz, a voz rouca, seca, como se qualquer emoção fosse um luxo que ele já não pode se permitir.O carro avança pela cidade, mas Jonathan sente que está parado no tempo. As ruas passam, os semáforos se apagam, mas ele continua suspenso, imóvel, como se estivesse preso em uma bolha onde só o passado ecoa. A lembrança de Marta, de tudo que ela foi, tudo que representou, tudo que ele destruiu, o atravessa como vidro quebrado.Aquela risada que fazia seus ombros relaxarem depois de um dia inf