O relógio da marca 10h27 da manhã. Jonathan Schneider continua à frente do seu império, como sempre. O mesmo café amargo, o mesmo jornal dobrado sobre a mesa, a mesma rotina fria que voltou a ocupar seu lugar desde que Marta se foi. Quase dois meses. Sessenta e poucos dias de ausência preenchidos apenas por silêncios e lembranças.
Ele não fala sobre ela. Não toca no nome. Mas todos ao redor sabem que ela ainda vive em cada detalhe da vida dele. O salário dela continua sendo depositado religiosamente, todo quinto dia útil do mês, como se fosse uma tradição sagrada.
— Talvez um dia ela ligue pra agradecer — ele murmura para si mesmo, encostado na janela com a xícara nas mãos. — Ou talvez nunca mais.
Mas não é sobre agradecimento. Ele deposita porque não suporta a ideia de que ela possa, mais uma vez, estar com fome. Que a menina dos olhos grandes e assustados, que ele acolheu quase sem querer, esteja vagando sem rumo. Não suportaria saber que ela está sozinha.
Jonathan se enterrou no tr