A madrugada ainda veste a fazenda com seu manto espesso e silencioso quando Marta, sentada na rede da varanda, embala Lua com o mesmo cuidado que se embala um fio de esperança. Seus olhos estão vermelhos, não apenas de cansaço, mas da dor crua que insiste em pulsar como um tambor em sua alma. A brisa fria acaricia os cabelos soltos, e o som abafado dos grilos não consegue competir com o barulho dentro de sua mente. Ainda que o mundo tenha desabado, ela não desgruda da filha nem por um segundo. Cuidar de Lua é a única maneira de não se perder de vez.
Jonathan, a poucos passos dali, a observa com um respeito silencioso. Não ousa interromper. Vê na cena algo mais que sagrado, uma mãe em vigília. Mas dentro dele, ao contrário da inquietude ao redor, pulsa um sentimento inesperado. Pela primeira vez em anos, sente-se exatamente onde deveria estar. Aquela criança é sua, aquela mulher é sua, e aquele amor, embora nascido da forma mais impensada, é a coisa mais sólida que já teve em mãos.
Mas