O cheiro de Marta ainda parece morar ali. Na mansão silenciosa, ele paira no ar como um fantasma sutil, uma lembrança viva e cruel. Ao empurrar a porta de casa, Jonathan não diz uma palavra. Nenhum gesto. Só atravessa o saguão como uma tempestade muda. Seus passos ecoam duros no mármore frio.
Sobe as escadas com pressa, abre a porta do quarto com brutalidade contida, joga as chaves na cômoda como quem lança um fardo, e arranca a camisa com força, como se o tecido estivesse contaminado, como se queimasse.
Entra no chuveiro e deixa a água quente escorrer, fervendo contra a pele. Fecha os olhos. Respira fundo. E falha. Porque a água não leva a culpa. Nem a raiva. Nem o arrependimento.
Nada leva.
Deita-se na cama, ainda molhado. O colchão está frio. O peito, ainda mais. O travesseiro, antes cúmplice do descanso, agora é testemunha da sua dor. Ele fecha os olhos com força, tentando escapar. Mas o sono chega como um ladrão, invadindo a mente cansada. E o sonho vem.
Um campo aberto. Verde.