O relógio marca algum horário indefinido no meio da madrugada quando Marta abre os olhos, mas algo em seu peito já estava desperto antes do ponteiro mudar de lugar. É como se a alma chamasse, baixinho, firme, dizendo: é agora. O corpo pesa, o coração mais ainda, mas ela sabe. É hoje. É nessa madrugada quieta, sem testemunhas, que ela vai se despedir de tudo o que construiu com o suor, os sonhos e a coragem. O sítio dorme, mas Marta não consegue mais. Porque antes de ir, ela precisa lembrar. Precisa sentir. Precisa se despedir.
Levanta devagar, os pés descalços tocando o chão frio do quarto. Jonathan dorme, os braços jogados para o lado, o rosto sereno. No bercinho, Lua está enroladinha como um presente, os lábios entreabertos, o peitinho subindo e descendo num compasso doce. Marta sorri entre a dor. Aproxima-se, ajeita com carinho a manta da filha, beija de leve a testa dela e fecha os olhos por um instante.
— Você é o meu maior motivo — sussurra, a voz embargada.
Sem fazer barulho, a