Aos 20 anos, Luna Castilho, abandonada em um quarto de hospital, deu à luz a uma criança não planejada. E após ouvir o choro daquela garotinha, a única coisa que ela sabia, é que a amava mais do que tudo no mundo. – Luna, sinto muito. Sua filha... ela não resistiu. Mas Luna tinha tanta certeza de que ouvira o choro do seu bebê, quanto de que tinha ouvido o nome “Grupo Oeri”, dito por duas enfermeiras debochadas, enquanto insinuavam que sua filha tinha sido vendida. Seis anos depois, ela finalmente tem a chance de se aproximar de Vitor Oeri, CEO de uma empresa multibilionária na área de construções, e executar o plano de se vingar e pegar sua filha de volta. O que ela não imaginava, é que seu novo chefe também estava prestes a roubar seu coração.
Ler maisCom o coração ainda agitado pelas contrações que parecem ecoar mesmo após o parto, volto à consciência na sala de cirurgia. Pisco confusa algumas vezes, tentando enxergar alguma coisa. A luz branca forte, vinda do teto sala fria, era quase cegante. Um silêncio pesado paira no ar, quebrado apenas pelo eco distante do choro de um bebê. Meu bebê. Minha filha. Meus olhos turvos se esforçam para focar, e meu corpo ainda trêmulo parece não querer obedecer aos meus comandos.
– Deixe–me vê-la... – acho que digo, minha voz ainda completamente atordoada de dor.
As mãos da equipe médica continuam a trabalhar ao meu redor, mas há uma tensão silenciosa no ar, uma sombra que paira sobre nós. Meus olhos buscam freneticamente o rosto da obstetra em busca de alguma resposta, mas seu olhar evita o meu, uma hesitação passageira que diz mais do que mil palavras.
Então, as palavras que eu temia ouvir caem como uma sentença sobre mim.
– Luna, sinto muito. Sua filha... ela não resistiu – a voz da obstetra soa abafada, distante, como se estivesse falando através de uma espessa camada de névoa.
Meu coração se contrai em meu peito, uma dor lancinante que me faz estremecer até a alma. Não pode ser verdade. Não pode. Eu a ouvi. Eu ouvi o choro da minha filha. Eu sei que ouvi.
Uma torrente de emoções contraditórias me varre, uma batalha interna entre a esperança desesperada e a cruel realidade que se impõe diante de mim. Meu raciocínio se fragmenta, tentando juntar os pedaços quebrados dessa terrível verdade que ameaça me consumir.
Enquanto a obstetra tenta me confortar com palavras gentis, que mal sou capaz de distinguir, uma parte de mim se agarra desesperadamente à certeza frágil de que minha filha está viva. Mas a dúvida semeada pela notícia da sua suposta morte se insinua como uma sombra escura, envenenando cada pensamento, cada esperança.
Meus olhos buscam freneticamente a pequena forma envolta em cobertores, mas agora vejo apenas a quietude e a imobilidade da morte.
– Vamos fazer você descansar um pouco, ok? – A voz da obstetra puxa de volta o meu olhar na sua direção.
– Me... Me deixe segurá-la – peço. – Só uma vez. Por favor.
– Você não pode lidar com isso agora.
– Mas... mas...
Rapidamente sou invadida por uma onda de sono gigantesca, e me dou conta de que estou sendo medicada. Ou dopada. A consciência vai se esvaindo aos poucos, meus olhos já não conseguem permanecer abertos.
Os murmúrios das enfermeiras preenchem o ar. Primeiro parecem bem distantes. Mas suas vozes vão se tornando mais altas e claras à medida que vou voltando a consciência. Não abro os olhos, mas tenho quase certeza de que estou no quarto agora.
– Você não sente um pouco de pena? – Uma das vozes ia dizendo. – Tão nova e completamente sozinha nesse quarto de hospital. Ouvi dizer que ela não tem ninguém. Que o pai da criança a abandonou quando descobriu que estava grávida.
– Pena por quê? – Uma voz cortante responde. – Aposto que na hora de abrir as pernas ela estava gostando muito... – ouço a risada das duas. – Ela deveria era ficar grata por não ter que cuidar de uma criança aos vinte anos. Ela não tem dinheiro nem para pagar por esse quarto, sabia? É uma cortesia. Imagina para sustentar uma recém-nascida. Você não tem que ter pena. Pense que estamos lhe fazendo um favor.
– Olhando por esse lado... – a outra mulher reflete. – Provavelmente foi melhor para a criança.
As palavras me atingem como punhais. Mulheres podiam ser muito cruéis, especialmente para julgar outras mulheres. Elas não sabiam nada da minha vida, não sabiam nada da minha história! Eu podia ter meus problemas, e eles eram muitos, mas... Ficar grata por perder minha filha? Ser melhor para ela ter morrido?
– Com certeza.
– Ainda assim, uma mãe perder sua filha... isso é cruel.
Sim, era cruel demais! Mas não digo nada. Permaneço com os olhos fechados, abalada demais para entrar em um conflito naquele momento e ainda bastante confusa por causa de todo aquele sedativo.
Além do mais, a enfermeira disse que eu estava nesse quarto por uma cortesia. Cortesia do hospital? Eu não queria ser mandada embora ainda. Precisaria de muitos sedativos de antes de conseguir lidar com a dor. E nem era a dor física que me incomodava mais.
– Você é nova aqui. Vai aprender que não existe isso de crueldade quando a conta for paga pelo do Grupo Oeri.
Grupo Oeri. O nome ressoa em minha mente como um sino distante, despertando uma sensação de alarme e desconfiança. Por que o Grupo Oeri estaria pagando a conta do meu parto? E o que isso tem a ver com a morte da minha filha?
– Vai render uma boa quantia... – a enfermeira mais velha continua. – Acho que finalmente vou poder tirar umas longas férias – ri. – Te recomendo fazer o mesmo.
Um calafrio percorre minha espinha quando a verdade dolorosa começa a se insinuar em minha mente confusa: minha filha não está morta. Eu tinha a ouvido chorar, era real. Ela não estava morta. Ela foi roubada. Mas... roubada por quem? E por quê? As enfermeiras... elas estão envolvidas nisso. Elas sabem o que aconteceu com minha filha.
Enquanto as mulheres continuam a conversar, alheias à tormenta que se desenrola dentro de mim, uma coisa fica clara: eu farei qualquer coisa para encontrar minha filha. Custe o que custar. Porque enquanto houver uma centelha de esperança dentro de mim, enquanto eu puder ouvir seu choro ecoando em minha mente, eu não descansarei até tê-la nos meus braços.
– Grupo Oeri... – as palavras deixam meus lábios sem autorização. Preciso ter certeza de que jamais esquecerei aquele nome, não importe o quão confusa minha mente ainda estivesse no momento. – Grupo Oeri...
– Acha que ela ouviu alguma coisa? – A primeira enfermeira pergunta, com a voz ligeiramente assustada.
– Aumente a dosagem do sedativo – a outra a orienta. – Ainda que tenha ouvido, não vai se lembrar de mais nada quando acordar.
Mas eu me lembraria.
– Grupo Oeri...
O topo da Torre Eiffel brilhava sob as luzes de Paris, uma visão deslumbrante que parecia saída de um daqueles contos de fadas que Clara ainda insistia que os pais lessem para ela antes de dormir. A cidade se estendia abaixo, e o céu noturno estava pontilhado de estrelas, criando o cenário perfeito para um momento tão especial. Vitor e Luna, cercados por amigos e familiares, estavam prestes a renovar seus votos de casamento, simbolizando um novo começo em suas vidas.Luna, usando um deslumbrante vestido branco, segurava a mão de Vitor com firmeza, seu coração batendo acelerado de emoção. Pouco mais de um ano havia se passado desde o dia em que Lucas nascera, e aquele dia marcava não apenas a renovação dos votos, mas também a celebração de um amor que havia superado tantos desafios.Clara, agora com sete anos, era a daminha de honra. Ela estava radiante em seu vestidinho florido, segurando um pequeno buquê de flores. Lucas, nos braços de Lorena, observava tudo com seus grandes olhos cur
O frio do ambiente estéril do hospital me envolveu assim que fui levada para a sala de cirurgia. As luzes brilhantes do teto ofuscavam minha visão, projetando halos cintilantes que me deixavam momentaneamente desorientada. O som constante e ritmado dos monitores de batimentos cardíacos ecoava pelos meus ouvidos, amplificando a sensação de urgência que permeava o ar. Eu só conseguia pensar em Vitor segurando minha mão até o último momento permitido, seus dedos apertando os meus com uma mistura de preocupação e determinação. O medo que ele tentava disfarçar espelhava o meu, criando uma conexão silenciosa e intensa entre nós.— Vamos cuidar de você, Luna — disse uma das enfermeiras, tentando me tranquilizar enquanto ajustava os aparelhos ao meu redor. Sua voz era suave e reconfortante, mas não conseguia dissipar a sombra de pânico que pairava sobre mim.Eu apenas assenti, tentando manter a calma. O medo pela minha vida e pela de Lucas era avassalador, uma presença opressora que se instal
~VITOR~A sala de espera do hospital estava preenchida com dor e sofrimento. Cada segundo se arrastava como uma eternidade. Sentei-me numa cadeira dura e desconfortável, tentando manter a calma enquanto aguardava notícias de Luna e Lucas. O som dos meus próprios pensamentos era ensurdecedor, uma mistura de medo e esperança.Cada minuto que passava era uma tortura. As memórias de Luna e eu juntos invadiam minha mente, desde o nosso primeiro encontro até os momentos mais recentes de felicidade e amor. A imagem de Clara, nossa pequena menina, brincando feliz em casa, misturava-se com a visão do futuro incerto. Eu precisava ser forte, por ela, por Luna e por Lucas.A sala de espera estava quase vazia, apenas algumas pessoas sentadas em silêncio, provavelmente passando por suas próprias provações. Olhei ao redor, tentando encontrar algum consolo, mas tudo parecia frio e distante. Fechei os olhos por um momento, tentando acalmar a mente turbulenta. Era quase impossível.O médico finalmente
Nos dias que se seguiram, Vitor e eu planejamos uma festa íntima para comemorar os dois meses da cirurgia de Estela e Clara. Queríamos celebrar a vida e a recuperação das pessoas que amávamos, e uma reunião na cobertura do nosso apartamento parecia perfeita. A decoração foi simples, mas aconchegante, refletindo a atmosfera de amor e gratidão que permeava nosso lar. Convidamos apenas amigos próximos e alguns amiguinhos de Clara para brincar na piscina.No dia da festa, o céu estava claro e ensolarado, criando o cenário perfeito para nossa celebração. Clara estava radiante, correndo pela cobertura e brincando com seus amigos, a energia contagiante das crianças enchendo o ambiente de alegria. Eu estava deitada na espreguiçadeira, observando tudo com um sorriso no rosto. Embora minha condição exigisse repouso, ver a felicidade de Clara e de nossos amigos fazia tudo valer a pena.Vitor estava ao meu lado, atento a cada necessidade minha. Ele trazia petiscos e bebidas (não alcoólicas, claro
Deitada na cama, sentia uma mistura de tédio e inquietação. O repouso forçado parecia uma sentença de prisão, e cada minuto se arrastava interminavelmente. Eu sabia que era necessário, mas isso não tornava a situação menos frustrante. Olhei para o teto, tentando encontrar algum alívio nos desenhos das sombras, mas minha mente voltava sempre ao mesmo ponto: a ansiedade pela saúde do bebê e pela minha própria. Sentia falta de estar ativa, de poder cuidar de Clara e ajudar Vitor nas pequenas coisas do dia a dia. Agora, tudo o que podia fazer era esperar e torcer para que tudo ficasse bem.Nas semanas que se seguiram, Vitor provou ser um apoio inestimável. Não que ele já não fosse antes, é claro. Mas ele estava tão dedicado! Cada dia, ele trazia uma pequena surpresa para mim, seja um buquê de flores frescas ou uma caixa de chocolates fin
A vida tinha se estabilizado em uma rotina de felicidade e diversão. Depois da cirurgia bem-sucedida de Clara, tudo parecia estar caminhando para um futuro mais leve e cheio de possibilidades. Vitor e eu aproveitávamos cada momento, cada toque, cada olhar compartilhado. Clara estava se recuperando bem, e Estela, também parecia estar encontrando seu caminho, tendo assumido meu lugar como secretária de Vitor na Oeri. O sorriso dela, que antes estava perdido em um mar de tristeza, agora era mais frequente, mais verdadeiro.Vitor estava me fazendo tirar os mais variados tipos de fotografias. Fosse sozinha, fosse em família. Das mais bregas e divertidas até as feitas por fotógrafos profissionais. Minha preferia era uma em que ele beijava minha testa enquanto Clara beijava minha barriga. Mas não era só isso, ele não queria só registrar, ele queria participar também. Ia comigo em todas as consultas,
Último capítulo