📓 Narrado por Clara
Entrei no banheiro com o corpo em chamas não de desejo, mas daquela dor muda que o orgulho disfarça e o corpo denuncia.
Tranquei a porta. Encostei as costas frias na parede de azulejo e deixei o ar sair, pesado, trêmulo.
Só quando me vi sozinha no espelho, a verdade apareceu inteira.
O rosto ainda estava impecável maquiagem firme, expressão controlada.
Mas o braço…
O ponto onde ele segurou latejava.
A manga da blusa arrastou no tecido e doeu.
Do tipo de dor que não grita, mas consome.
Ergui o pano devagar.
O espelho devolveu o que eu já sabia, mas odiava ver: as bolhas pequenas, sensíveis, agora rompidas nas bordas.
A pele avermelhada, como se o toque dele tivesse acordado o que o remédio ainda não tinha apagado.
— Merda… — murmurei baixo, o som ecoando no azulejo.
Fui até minha bolsa, abri o zíper e peguei o pequeno estojo de remédios.
Tudo estava ali comprimidos, pomada, gaze, o ritual que ninguém nunca podia ver.
Girei a tampa