📓 Narrado por Clara — Quarta-feira, 8h22 da manhã
O ar da sala dele parecia outro mundo.
Silêncio de aço, perfume de madeira cara e uma tensão que podia cortar com faca.
Miguel estava de pé atrás da mesa, paletó alinhado, olhar de predador calmo.
Mas eu via nos olhos dele o mesmo cansaço mal disfarçado, a raiva camuflada de controle.
A porta fechou atrás de mim, e o som ecoou como sentença.
Ele não disse nada.
Nem bom dia.
Nem olá.
Só me mediu com o olhar, da cabeça aos pés, até o silêncio doer.
— Pode sentar. — disse, enfim.
O tom era seco, profissional, mas carregado demais pra ser neutro.
Sentei. Cruzei as pernas, ajeitei a bolsa no colo e esperei.
Ele não olhou pro computador, não olhou pros papéis.
Olhou pra mim. Só pra mim.
— Atrasada. — murmurou, quase como quem saboreia o erro. — Achei que tinha esquecido o caminho.
Respirei fundo. — Trânsito.
— Sempre é. — Ele inclinou a cabeça, irônico. — O problema é que o relógio aqui dentro não espera p