capítulo 119

📓 Narrado por Clara — Domingo, 8h12 da manhã

A estrada era a mesma de sempre reta, seca e com cheiro de terra molhada no ar , mas agora parecia mais longa.

O táxi parou em frente ao portão verde descascado, o mesmo que meu pai pintava todo fim de ano, jurando que daquela vez a tinta ia durar.

Desci com a mala nas mãos. O chão de terra batida rangeu sob o peso.

O som do vento batendo nas telhas do galpão me trouxe de volta pra casa antes mesmo de entrar.

Aquele quintal era uma lembrança viva: o pé de mexerica ainda ali, teimoso; a corda de varal meio caída, a sombra do cachorro que já não existia.

E o cheiro… o cheiro era o mesmo. Sabão em pedra, café passado e lembrança quente.

Bati devagar.

A porta abriu com um rangido conhecido e lá estava ela.

Minha mãe.

Os cabelos mais grisalhos, o avental florido, o olhar marejado.

Ela parou na porta por um segundo, o pano ainda nas mãos, e depois sussurrou:

— Filha?

A palavra saiu trêmula, meio incredulidade, meio reza atendida.

S
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