📓 Narrado por Clara — Domingo, 8h12 da manhã
A estrada era a mesma de sempre reta, seca e com cheiro de terra molhada no ar , mas agora parecia mais longa.
O táxi parou em frente ao portão verde descascado, o mesmo que meu pai pintava todo fim de ano, jurando que daquela vez a tinta ia durar.
Desci com a mala nas mãos. O chão de terra batida rangeu sob o peso.
O som do vento batendo nas telhas do galpão me trouxe de volta pra casa antes mesmo de entrar.
Aquele quintal era uma lembrança viva: o pé de mexerica ainda ali, teimoso; a corda de varal meio caída, a sombra do cachorro que já não existia.
E o cheiro… o cheiro era o mesmo. Sabão em pedra, café passado e lembrança quente.
Bati devagar.
A porta abriu com um rangido conhecido e lá estava ela.
Minha mãe.
Os cabelos mais grisalhos, o avental florido, o olhar marejado.
Ela parou na porta por um segundo, o pano ainda nas mãos, e depois sussurrou:
— Filha?
A palavra saiu trêmula, meio incredulidade, meio reza atendida.
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