📓 Narrado por Miguel
— Entra. — foi tudo o que consegui dizer.
A voz saiu baixa, arranhada, como se tivesse passado por caco de vidro antes de chegar à boca.
Ela hesitou por um segundo só um.
Depois deu um passo.
E o ar do quarto mudou.
O som dos pés dela no piso gelado era quase inaudível, mas dentro da minha cabeça soava como tambor.
Clara passou por mim sem olhar.
O perfume dela veio junto, misturado com o cheiro do quarto dela, e o nó no meu peito apertou.
Fechei a porta devagar, com medo de que o barulho quebrasse o pouco de paz que ainda existia entre nós.
Quando virei, ela já tava ali parada no meio do quarto, as mãos firmes ao lado do corpo, o rosto em silêncio.
O roupão marcando a cintura, o cabelo preso, o olhar calmo demais pra quem carregava um furacão por dentro.
— Eu preciso que você me ouça primeiro. — ela disse, firme.
— Tudo sem me interromper.
Sem tentar me consertar.
Assenti, mudo.
Nem ousei abrir a boca.
Ela respirou fundo, e