📓 Narrado por Clara
A porta bateu devagar.
Mas o som ficou.
Grudado no ar.
Na pele.
Na lembrança.
O roupão ainda tava no chão, caído, inútil.
E eu ali de pé, sem saber se respirava ou gritava.
Não era vergonha.
Era raiva.
Dele.
De mim.
Do destino que sempre me arranca antes de eu escolher o que dar.
> Ele viu.
O homem que eu jurei que nunca veria, viu.
O olhar dele ficou preso em mim tempo o bastante pra rasgar o que eu levei anos pra costurar.
Não teve nojo.
Mas teve pena.
E isso… dói mais.
Porque quando alguém sente pena, te diminui.
Te encolhe.
Te apaga.
Eu não quero pena.
Não quero ser lembrada pelo que o corpo carrega.
Quero ser lembrada pelo que eu sou quando amo não pelo que sobrou depois da dor.
Meus joelhos cederam.
Sentei no chão frio, o corpo nu, o coração queimando.
O ar vinha curto, pesado, cada suspiro um golpe.
— Não queria que tu soubesse, Miguel… — murmurei, pro nada. — Não assim.
A voz saiu rouca, rasgand