📓 Narrado por Miguel — Sábado, 09h52 da manhã
O corredor parecia não ter fim.
O som do choro dela ainda vinha atrás da porta, abafado, mas cortando fundo demais pra eu fingir que não ouvia.
Abri a porta do meu quarto.
O ar gelado bateu na pele quente, e por um segundo eu quis sentir frio.
Mas não sentia nada.
Só o peso.
O peso do que vi.
O peso do que falei.
O peso do que fui.
Joguei o celular na cama, tirei o relógio e passei as mãos no rosto, tentando apagar as imagens mas quanto mais tentava, mais vinham.
> “Você quer me ter sem me assumir.”
“Quero você inteira. E não preciso de ninguém mais sabendo.”
“Se for mais um joguinho pra eu me sentir culpado, nem começa.”
“Tem sim… chama não ser sua propriedade.”
As frases voltavam em flashes, cruas, duras, e todas com o mesmo som: o da minha própria voz.
Carregada de ego.
Cheia de defesa pra esconder medo.
Afundei no sofá e fiquei olhando o chão, sem foco.
Do lado de fora, o mar batia como se zombas