📓 Narrado por Clara — Sexta-feira, 22h14 da noite
Fiquei um tempo parada diante do vidro, só ouvindo o barulho do mar lá embaixo.
A brisa vinha morna, misturada com o cheiro de sal e damas-da-noite que subia do jardim do resort.
Angra tinha aquele tipo de beleza que quase faz a gente esquecer que o mundo pode ser cruel.
Quase.
Abri a mala e revirei as roupas até achar o que eu queria.
Uma bermuda branca de tecido leve, um biquíni azul-escuro por baixo o mesmo que comprei sem coragem de usar e por cima, uma camisa de linho clara, folgada, com as mangas arregaçadas.
Nada demais, nada de “secretária exemplar”.
Só roupa de gente que quer respirar.
Olhei de novo pro espelho: o cabelo solto, os pés descalços, a pele iluminada pela luz amarela do abajur.
As marcas estavam ali, discretas, rosadas, mas quase invisíveis na penumbra.
Pela primeira vez em muito tempo, eu não quis escondê-las.
Peguei a chave-cartão, desci em silêncio pelos corredores vazios e saí pela late