capítulo 107

📓 Narrado por Clara — Sexta-feira, 22h14 da noite

Fiquei um tempo parada diante do vidro, só ouvindo o barulho do mar lá embaixo.

A brisa vinha morna, misturada com o cheiro de sal e damas-da-noite que subia do jardim do resort.

Angra tinha aquele tipo de beleza que quase faz a gente esquecer que o mundo pode ser cruel.

Quase.

Abri a mala e revirei as roupas até achar o que eu queria.

Uma bermuda branca de tecido leve, um biquíni azul-escuro por baixo o mesmo que comprei sem coragem de usar e por cima, uma camisa de linho clara, folgada, com as mangas arregaçadas.

Nada demais, nada de “secretária exemplar”.

Só roupa de gente que quer respirar.

Olhei de novo pro espelho: o cabelo solto, os pés descalços, a pele iluminada pela luz amarela do abajur.

As marcas estavam ali, discretas, rosadas, mas quase invisíveis na penumbra.

Pela primeira vez em muito tempo, eu não quis escondê-las.

Peguei a chave-cartão, desci em silêncio pelos corredores vazios e saí pela late
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