Sophie Narrando
Eu sempre fui boa em me reinventar. Em cair e levantar, sacudir a poeira e sair por cima. O problema é que, dessa vez, a queda foi alta demais. E a poeira virou lama, me afundando até o pescoço. A imagem perfeita que eu tanto construí, a influência, o respeito, os sorrisos falsos em eventos lotados... Tudo escorreu pelos meus dedos como areia. Bastou uma postagem, um dossiê, uma boca aberta na hora errada. Everton conseguiu fazer o que ninguém tinha feito: me encurralar. Fugir foi a única opção. Não havia como encarar polícia, imprensa, gente apontando o dedo, dizendo o que eu merecia ou não. Como se todos ali fossem santos. Como se ninguém ali tivesse um podre escondido atrás da porta.
Consegui sair do país graças a contatos antigos. Gente que me devia favores, que ainda me temia, mesmo que eu não tivesse mais poder real. Me escondi por dias, semanas. Dormi em hotéis baratos, mudei de cabelo, de sotaque, de nome. Passei a ser outra, mas por dentro... ainda era eu. Ai