A chuva voltou sem pedir licença — agora mais forte, decidida. Tambores no telhado da Casa Entre, como dedos apressados marcando o compasso de um dia que se anunciava diferente.
No corredor, Helena limpava as mãos manchadas de tinta. Tentara reviver o azul da porta — desbotado pelo tempo, mas firme como esperança que não cansa de passar.
— Azul tem cor de começo novo? — perguntou Nayeli, surgindo ao seu lado com uma sacola cheia de tecidos coloridos.
— É cor de água, e de céu. Então talvez sim — respondeu Helena, esboçando um sorriso.
— Também é cor de estrada — disse Nayeli. — Pelo menos pra quem olha o mundo de baixo pra cima.
Na cozinha, Santiago mexia uma mistura perfumada: café com especiarias sírias, receita de uma amiga de Clarice. O cheiro se espalhava como quem abre janela em quarto abafado — libertando o ar.
— Hoje chega gente nova — avisou Clarice, entrando com uma xícara nas mãos e um pressentimento no olhar.
— Quem vem? — perguntou Lúcia, surgindo com um bordado inacabado