A chuva veio leve, quase um sussurro, como se pedisse licença para cair. Molhava devagar as folhas da mangueira do quintal, escorria pelas telhas da Casa Entre e fazia um som que parecia conversa antiga. Era fim de tarde, e a varanda estava cheia. Mas não de gente — cheia de espera. Clarice dizia que algumas tardes eram feitas só pra isso: aguardar o que ainda não tem nome.
Helena estava de pé junto à porta, observando o portão entreaberto. Sabia que hoje era dia de reencontro. Layla havia mandado mensagem pela manhã: “Quero voltar. Mas não sozinha.”
Dois minutos depois, ela chegou. Desta vez sem Nour. Ao seu lado, uma mulher mais velha, de pele muito branca, véu cinza claro e olhar desconfiado. Helena a reconheceu da foto enviada por Layla. Seu nome era Fátima — a sogra. Tinha vindo da Turquia para ajudar com a filha, mas desde que chegara só falava da guerra, do luto e da dor com o mesmo tom calado de quem viu demais.
— Ela não entende português — explicou Layla ao chegar. — Mas ent