O silêncio no celeiro era quase respeitoso.
Clarice passava os dedos sobre a madeira do gravador antigo, como se ali estivessem impressas as últimas palavras da mãe. Ao seu lado, Ana mordiscava a tampa de uma caneta, os olhos fixos num mapa aberto no chão. Leonardo, debruçado sobre o laptop, revisava a trilha captada no bosque.
— Essa última gravação… — ele murmurou, os olhos fixos na tela. — Há algo ali. Um som de fundo que não é só o vento.
— Um sussurro? — arriscou Ana, ainda distraída com o mapa.
— Não. Algo mais ritmado. Como se fosse… — ele aumentou o volume — …uma voz tentando acompanhar a música.
Clarice se aproximou, os olhos arregalados. — Coloca nos fones. Deixa eu escutar.
Leonardo entregou. Ela fechou os olhos.
Lá estava. Uma batida fraca, como se alguém cantasse muito longe, debaixo d’água, ou de trás do tempo.
— Não é eco — disse Clarice, tirando os fones com pressa. — É... ela. É a mãe tentando completar a música.
Ana se endireitou. — Espera. Isso muda tudo. Talvez a g