A reforma começou com silêncio. Não aquele silêncio triste que a casa conhecia, mas um silêncio cheio de planos, serragem no ar e conversas sussurradas sobre possibilidades.
Helena chegava cedo, antes mesmo dos operários. Gostava de ouvir a casa acordar — os estalos da madeira antiga, os pássaros nas janelas, e a brisa que parecia entrar sempre com saudade. Com o caderno azul sob o braço, ela percorria os cômodos como quem visita um templo. Ali, cada parede guardava uma história, e ela estava decidida a honrá-las todas.
Santiago observava tudo com um misto de orgulho e despedida. Estava sempre por perto, mas mais calado que de costume.
— Você está mesmo pronto para deixar essa casa? — perguntou Helena numa manhã, enquanto tomavam café entre baldes de tinta e projetos abertos.
— Não estou deixando — respondeu ele. — Estou ampliando o espaço para que ela receba mais vozes. A casa foi minha, sim, mas também foi de Luísa. E agora... é sua. E de todas que ainda virão.
Helena sorriu. — Vai