O vapor subia das xícaras como um sussurro tímido. Clarice soprava o chá distraidamente, os olhos fixos na janela que dava para o quintal coberto de folhas secas. O outono parecia ter estendido uma colcha de tons quentes sobre tudo. Havia algo de bonito no abandono das árvores.
Leonardo mexia o chá com a colher de forma lenta, como se cada giro despertasse uma lembrança.
— Você ainda escreve? — perguntou ele, quebrando o silêncio com o cuidado de quem pisa em folhas secas.
Clarice virou o rosto em sua direção, surpresa com a pergunta.
— Às vezes. — respondeu, depois de uma pausa curta. — Mas é diferente agora. Antes eu escrevia pra sobreviver. Agora, escrevo quando respiro fundo demais.
Leonardo sorriu de canto. Ele conhecia esse tipo de resposta. Era o tipo de coisa que Clarice dizia quando estava pronta pra se abrir, mas não queria parecer vulnerável.
— Você sempre foi assim. — ele disse. — Faz poesia até quando está fechando a porta.
— E você sempre foi assim: aparece quando o poem