O que vem depois do chá
O vento da manhã soprava pelas frestas da janela, trazendo um frio leve que se insinuava pela cozinha. Clarice estava de pé, encostada na pia, mexendo distraidamente em uma colher. O som metálico era o único ruído no cômodo, até Leonardo entrar, ainda com os cabelos bagunçados e a camisa amassada. O silêncio entre eles não era desconfortável — era como o de um rio que já aprendeu a contornar pedras sem fazer alarde.
— Tem café? — ele perguntou, coçando a nuca.
— Na garrafa térmica. Fiz cedo. Achei que você ia acordar antes — respondeu, com um meio sorriso.
Leonardo serviu-se e sentou-se à mesa. Observou-a por alguns instantes, como quem reconhece um lugar onde já foi feliz e ainda sente que pode ser. Clarice se virou e pegou duas fatias de pão, colocando-as na torradeira.
— Dormi melhor do que imaginava — ele disse.
— Aqui sempre foi silencioso. Até os fantasmas sussurram baixo — ela brincou.
Leonardo riu, mas logo ficou sério.
— Você ainda tem fantasmas