O tempo começou a assumir outra forma.
Patrícia percebeu isso numa manhã comum, enquanto observava o bebê dormir no carrinho ao lado da mesa. O relógio marcava nove e quinze, mas aquela informação já não tinha o mesmo peso de antes. O dia não era mais dividido por urgências externas, e sim por ciclos internos. Fome. Sono. Presença.
E, curiosamente, isso não a diminuía.
A tornava mais precisa.
Ela abriu o notebook pela primeira vez em dias sem sentir culpa. Não para fugir da maternidade, mas para integrá-la ao que ainda era. Leu documentos, fez anotações objetivas, respondeu a dois e-mails da comissão. Nada excessivo. Nada caótico.
Quando fechou o computador, sentiu-se inteira.
— Dá para existir em mais de um lugar — murmurou, quase como um lembrete para si mesma.
Naquela semana, Patrícia decidiu fazer algo simples e simbólico: levou o bebê à mesma praça onde costumava caminhar antes do parto. O sol estava ameno, o movimento discreto. Sentou-se no banco de sempre, ajustou o carrinho e