Patrícia percebeu que não existia mais “voltar”.
Não voltar ao corpo de antes.
Não voltar à rotina antiga.
Não voltar à mulher que existia antes de ser atravessada por tudo.
E, diferente do que muitos diziam, isso não lhe causava luto.
Causava lucidez.
Naquela manhã, enquanto embalava o bebê junto ao peito, sentiu o peso real da nova vida que se impunha. Não como prisão, mas como eixo. Tudo agora orbitava em torno de algo concreto, vivo, que exigia presença contínua. Não heroísmo. Não sacrifício teatral. Presença.
Ela preparou o café com uma mão só, ajeitou o pano no ombro, caminhou pela casa sem pressa. O mundo externo parecia distante, quase irrelevante naquele instante. Não por alienação. Mas porque havia prioridade.
Quando o bebê adormeceu novamente, Patrícia o colocou no berço e se sentou à mesa. Abriu o caderno antigo, aquele que a acompanhara desde o início da guerra silenciosa. Folheou páginas cheias de anotações, datas, decisões, frases curtas escritas nos momentos de maior t