Patrícia acordou com o corpo pesado e a mente surpreendentemente clara.
A gravidez avançava para uma fase em que o corpo exigia atenção constante. Não era fragilidade. Era biologia. E Patrícia lidava com isso como lidava com tudo: observando, ajustando, respeitando os sinais sem dramatizar.
Levantou-se com cuidado, apoiando a mão na barriga já evidente. Caminhou até o espelho do quarto e se observou por alguns segundos. O rosto estava diferente. Mais firme. O olhar mais direto. Não havia nostalgia pelo que perdera, nem ansiedade pelo que ainda não chegara.
Havia presença.
— Você está crescendo — murmurou, para o bebê e para si mesma.
Na cozinha, organizou o dia com a mesma precisão de sempre. Consultas médicas, uma reunião curta com a defensora, descanso programado. Patrícia não improvisava mais. Improvisar era luxo de quem não carregava uma vida dentro de si.
Enzo apareceu pouco depois, já com o celular na mão.
— Recebi confirmação — disse. — A investigação contra a clínica entrou em