Patrícia acordou com uma dor diferente.
Não era aguda. Não era pânico. Era um aviso silencioso, profundo, que vinha de dentro para fora. O corpo, mais uma vez, se adiantava aos pensamentos.
Ela ficou alguns minutos deitada, respirando devagar, analisando cada sensação com a atenção que aprendera a cultivar. A barriga estava rígida, pesada. O bebê se mexia menos do que o habitual.
— Calma — murmurou para si mesma. — Observa primeiro.
Levantou-se com cuidado e foi até a cozinha. Bebeu água, sentou-se à mesa, apoiou as mãos no ventre. O relógio marcava seis e vinte da manhã. Enzo ainda dormia.
A segunda contração veio discreta, mas clara o suficiente para não ser ignorada.
Patrícia fechou os olhos.
Não havia medo. Havia consciência.
Ela não acordou Enzo de imediato. Pegou o celular e anotou o horário. Dez minutos depois, outra contração. Um pouco mais longa. Um pouco mais firme.
— Ainda não — disse em voz baixa. — Mas está perto.
Quando decidiu chamá-lo, foi sem pressa, sem alarde.
— Enz