O salão de eventos do hotel mais caro da cidade estava irreconhecível. Os lustres de cristal, que costumavam iluminar festas de gala, agora jogavam uma luz crua e impiedosa sobre um palco austero, uma única mesa e um microfone. O burburinho era um ser vivo, um zumbido de vozes tensas, sussurros eletrizados e o ruído incessante de câmeras fotográficas. A imprensa mundial estava lá. Era o dia do acerto de contas da dinastia Moretti.
Nos bastidores, o ar estava gelado. Ian ajustava o nó de sua gravata preta em frente a um espelho. Suas feições eram de mármore polido, mas os olhos, refletidos no vidro, eram os de um homem prestes a saltar de um precipício. A atadura sob a manga da camisa branca imaculada formava um relevo discreto.
Matheus estava ao seu lado, falando baixo no microfone de sua orelha.
— Todas as saídas estão cobertas. As autoridades estão no controle da periferia. Os arquivos estão digitalizados e prontos para serem projetados. São dois dossiês: um para a polícia, outro p