A luz da manhã filtrou-se pela janela do quarto de hóspades não como um novo começo, mas como a poeira fina que se assenta sobre os escombros. Era uma luz cinza e cansada, que parecia lavar as cores do mundo, deixando tudo no mesmo tom de incerteza que Olívia carregava na alma. Ela estava no quarto de hóspedes da casa de Carla, diante da mala aberta no chão como uma ferida exposta. As roupas espalhadas sobre a cama não eram apenas tecidos; eram fragmentos da vida que ela tentava, desesperadamente, empacotar e levar para longe.
Pegou um vestido, aquele que Ian a dera de presente e usara no jantar com ele, meses atrás. O tecido era macio, mas a lembrança, áspera. Ela o dobrou com uma precisão quase cirúrgica, depois o desfez, as mãos trêmulas. Nenhum movimento parecia certo. Nenhuma dobra era capaz de conter o turbilhão que sentia. Como se pode colocar ordem no caos apenas arrumando uma mala?
Carla apareceu à porta, uma silhueta solidária contra a claridade do corredor. Seu cabelo estav