O motor rugia na madrugada.
O carro cortava a estrada costeira como uma lâmina prateada sob a lua. O mar à esquerda era um deserto líquido e negro, o vento trazia o cheiro frio do sal e algo mais; algo metálico, como sangue fresco.
Dentro do carro, ninguém falava. Apenas o chiado do rádio preenchia o silêncio.
— Coordenadas confirmadas. Repetindo: ela está viva.”
As palavras estalaram no ar, mas soaram quase irreais.
Viva.
Ian segurou o volante com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. No banco ao lado, Matheus observava o rosto do chefe e viu o que ninguém mais veria, a rachadura sob o controle.
— Como a encontraram? — Ian perguntou, a voz rouca, sem emoção.
— Pescadores locais, que fazem a segurança da casa litorânea dos Moretti. — respondeu Matheus. — Viram movimento perto das pedras antigas, na enseada. Disseram que a maré estava agitada. Quando chegaram, viram luzes acesas na casa e faróis de carro.
Ian não respondeu. Apenas encarou a escuridão além do para-brisa. O